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domingo, 25 de agosto de 2013

UM GOLPE PERFEITO


Um forte elenco, com roteiro clássico de filmes de golpes e com a envergadura da assinatura dos irmãos Coen, Um Golpe Perfeito tenta se sustentar com base em elementos básicos da comédia de cunho mais “inglesa” (mesmo sendo um filme de nacionalidade americana), ou seja, piadas de duplo sentido que transitam entre o sutil e o explícito, maneirismos pessoais e construídos na base dos atores, bordões formatados através de temas mais cultos (no caso aqui, o mundo dos compradores e colecionadores de arte), e lógico que não poderia faltar também aquele dose fatal de crítica a alguma parte dos EUA (no caso aqui o Texas).

O filme é dirigido por Michael Hoffman, diretor instável e dono de vários filmes “legaizinhos”, entre eles, podemos citar O Outro Lado da Nobreza, Sonhos de uma Noite de Verão, O Clube do Imperador e o recente A Última Estação. Hoffman tem dificuldades com o andamento do filme em alguns momentos e acaba se jogando em situações um pouco exageradas, algo que se potencializa com o roteiro cheio de excentricidades dos Coen.

Os personagens são extremamente caricaturais, o que pode irritar algumas pessoas em alguns momentos (a personagem de Cameron Diaz em alguns momentos só falta mugir para encarnar o aspecto texano exagerado de sua personagem) e Hoffman desaba suas tomadas rápidas em cima destas caricaturas. Já vi Colin Firth e Alan Rickman fazerem personagens parecidos com mais elegância e classe, mas é inegável que ambos seguram as pontas de forma muito precisa, com a competência que sempre se espera de atores do quilate de ambos.

Intercalando cenas muito engraçadas (como as de Colin Firth na recepção ou pulando nos quartos do hotel Savoy) com momentos não tão inspiradores (como a abordagem clichê à personagem de Cameron Diaz), Um golpe perfeito se coloca como mais um instável trabalho na carreira de Hoffman. Vale uma conferida pelo elenco, pela acidez habitual das comedias "inglesas" que se mostra presente e pelo interessante desfecho que conseguiu fugir de um final que se desenhava claramente preguiçoso.


(Gambit de Michael Hoffman, EUA - 2012)


NOTA: 6,0

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A PARTE DOS ANJOS

      
Quando soube no ano passado do lançamento de A Parte dos Anjos, o novo filme de Ken Loach, fiquei bem animado, afinal minha admiração pelo cinema do diretor é muito grande e a cada novo filme seu já brota em mim aquela curiosidade característica dos cinéfilos. Minha animação só aumentou quando A Parte dos Anjos venceu o Prêmio do Júri do Festival de Cannes no ano passado, contudo tal animação vinha sempre carregada por uma tristeza latente: a de que dificilmente eu conseguiria ter acesso ao filme pelas telas do cinema e até mesmo em DVD. Todavia, coisas estranhas acontecem, e com uma surpresa enorme, descobri que a nova aventura de Ken Loach estrearia em uma sala de um dos cinemas londrinenses (isso há algum tempo atrás). Assim sendo, não perdi a chance e me dirigi ao local gerador de minha surpresa.

Surpresa esta que não existiu ao longo dos pouco mais de noventa minutos da obra à qual dediquei este meu tempo. Conhecido por seu engajamento esquerdista e por suas críticas a um enquadramento social desigual e que gera desfavorecimentos de algumas classes em detrimento de outras, o cineasta britânico se utiliza de uma sombria Glasgow para contar a história de Robbie, um “jovem delinqüente” que é condenado a cumprir trezentas horas de trabalhos comunitários. Neste trabalho ele conhece Harry, um apreciador de uísques que presta auxílio ao garoto e o faz descobrir um talento natural para a percepção desta nobre e apreciada bebida. A partir deste ideia o filme se desdobra em uma leve comédia social com toques dramáticos.

Qualquer pessoa que tenha tido contato com a obra de Loach, perceberá que em A Parte dos Anjos  o diretor aposta mais no humor do que no drama engajado propriamente dito, algo já visto de forma bem mais sutil em À Procura de Eric. Porém, neste último, o elemento dramático ainda permanece e o humor aparece como refúgio dos personagens. Em A Parte dos Anjos o humor é mais central e se apóia nos dramas dos personagens para se firmar. Jamais imaginei que soltaria grandes risadas em um filme de Ken Loach, mas é o que acontece aqui (principalmente com o personagem Albert, o abobalhado e atrapalhado amigo de Robbie). O humor é preciso, e consegue se colocar por sua própria força, além de não atrapalhar a mensagem “oculta” que o filme carrega, ou seja, a de uma juventude forçada e coisas “ruins” por uma sociedade injusta, desigual e hipócrita. O engajamento social, econômico e cultural e sua necessária crítica continuam presentes aqui, só que ao invés de mostrado de forma dramática como normalmente faz, Loach opta por um humor correto e pouco comum em seus filmes, mas que funciona muito bem. Para um cineasta com quase 50 anos de carreira, conseguir alterar a forma sem mudar o conteúdo é quase uma proeza, ainda mais em um mundo preguiçoso como o de hoje.


A Parte dos Anjos pode até não ter causado em mim uma reação tão grande quanto os meus filmes favoritos do diretor (Kes, Meu Nome é Joe e o brilhante Ventos da Liberdade), mas já se mostra como um dos meus filmes favoritos de 2013. Imperdível.


(The Angel´s Share de Ken Loach, Reino Unido/França/Bélgica/Itália - 2013)


NOTA: 9,0