A F-1 ou o automobilismo em geral nunca foram temas de
grande inspiração para os diretores e produtores da sétima arte. Eu até gosto
de Grand Prix e admito a excelência técnica do mesmo, mas com certeza faltava
aquele algo a mais. O algo a mais que poderia atrair para um filme sobre F-1
aquele que não é um amante assíduo do esporte. Aquele algo a mais que
conseguiria mostrar ao espectador leigo que a F-1 é muito mais do que um
simples “conjunto de carros que ficam dando voltas sem parar pelo mesmo lugar”.
Eis então que surge Rush e consegue tal façanha com louvor.
A rivalidade entre James Hunt e Niki Lauda sempre foi uma
das mais presentes e fortes em toda a história da F-1 e com certeza, a
temporada de 1976 foi o auge desta rivalidade. Não sou um saudosista quando se
trata de F-1, não obstante, ainda acompanho todas as corridas de todas as
temporadas com muito entusiasmo. Gosto da era “romântica” tanto quanto da
atual, e devido a minha idade, entendo bem mais da segunda do que da primeira.
Contudo, é impossível não aceitar a ideia de que em 1976 o risco do esporte era
muito maior do que em 2013, fazendo com que tudo fosse um pouco mais cru e um
pouco mais assustador.
O diretor Ron Howard, que é capaz de grandes filmes como Uma
Mente Brilahnte; Frost/Nixon; Apollo 13 e ao mesmo tempo capaz de bombas como
Anjos e Demônios faz um trabalho incrível aqui, sempre acompanhado pelo aguçado
roteiro de Peter Morgan. As cenas de corridas são incríveis e Howard se utiliza
de uma câmera baixa para garantir toda a emoção possível ao espectador através
de imagens aproximadas e o som característico dos motores dos carros. Em alguns
momentos, Howard dramatiza demais e abusa de tomadas mais longas, mas nada que
prejudique o trabalho final. Ao apostar em dividir a tela entre dois pilotos,
unidos por uma paixão, separados por concepções de caráter e de conduta e
marcados por uma época, Howard consegue equilibrar os momentos dentro da pista
com a vida dos dois fora das pistas, e conjugar corretamente os reflexos
causados mutuamente e reciprocamente por todos estes elementos. Hunt e Lauda
foram grandes por tudo aquilo que os envolvia, e a rivalidade entre os dois só
foi o que foi devido ao choque destas duas grandezas. Captar, aceitar e
respeitar isto, sem tomar partido em nenhum momento ao longo da fita, foi com
certeza o grande mérito de Howard.
O elenco foi escolhido de forma muito interessante. Chris
Hemsworth é praticamente uma versão atual de James Hunt, tanto fisicamente,
quanto no seu jeito canastrão; o que facilitou o bom desempenho do ator
conhecido por seu trabalho em
Thor. Todavia , o destaque mesmo vai para Daniel Brühl. O ator
hispano-germânico conhecido por seu trabalho em Bastardos Inglórios
e o sensacional Adeus, Lênin encarna de forma perfeita o vivo Niki Lauda,
reproduzindo seus trejeitos, suas manias, seu sotaque e até a entonação de voz.
Por mais incrível que possa parecer, Rush é um filme
vibrante, impressionante e que consegue transitar muito bem na tênue linha que
separa o público leigo e os amantes de F-1, agradando assim a gregos e
troianos. O exemplo claro disso é que fui ao cinema acompanhado de minha
esposa, que inversa a mim, não possui nenhum apreço pelo esporte, mas saiu
igualmente entusiasmada com o filme. Howard parece ter criado aqui, um daqueles
filmes que se tornarão padrão para os possíveis filmes vindouros sobre a
categoria, o que é muito bom afinal Rush é um grande filme para todos os públicos
e para os amantes da F-1 é o que há de melhor até o momento. Para aqueles, que
assim como eu, alimentam uma grande paixão tanto pelo cinema quanto pela F-1,
Rush é um exercício de êxtase e até o momento o melhor representante já
produzido por esta união. A orfandade acabou.
(Rush de Ron Howard, EUA/Alemanha/Reino Unido - 2013)
NOTA: 9,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário